Fazia calor na tarde tediosa da Bahia de todos os santos.
Raul recém ganhara do pai um aparelho de rádio AM, retribuição às suas boas notas na escola. Movidos mais pelo tédio que pela curiosidade, Jerry gira um dos botões e liga o rádio novo de Raul, enquanto sorvia goles quentes de Guaraná Jesus, presente de sua tia residente nas longínquas dunas maranhenses.
"Mexe nisso não, Jerry. Painho briga se escangalhar, e o rádio é novinho"
Jerry Adriani não dá a mínima para o que diz Raul, e sintoniza numa rádio local, cuja voz negra mal-sintonizada chamou a atenção de Raul: "...oooh, my ding-a-ling, ding-a-ling, ding-a-ling..."
Raul cai compulsivo no chão.
"que é isso, rapaz! tá passando mal! Vou chamar a tia!" dizia Jerry enquanto Raul se retorcia todo no piso da sala.
"Carece não, carece não. Tô só imitando o rapaz no rádio" Aumenta o volume um pouquinho mais?"
"Imitando o que? Ôxe, que eu não vejo ninguém se retorcendo assim todim não... Mas que é um tal de "ding-a-ling" danado que ouço e nadinha mais, visse?"
Eis que entra no recinto o pai de Raul, já afrouxando a cinta para passar lição merecida nos dois moleques. "Vamo parando com isso, os dois! Raul, de barriga pra parede agora, que eu te mostro já o peso da minha cinta de couro, seu cabra muito sem vergonha!"
Mas Raul esquivou-se dos golpes e da peleja do pai, ainda se contorcendo e sacudindo pelo chão.
"Uau, parece uma pantera..." Pensou alto Jerry, o próximo na mira de tamanha fúria do pai de Raul.
domingo, dezembro 02, 2007
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