quarta-feira, janeiro 09, 2008

a pair of brown eyes



Estes são os três DVDs do Shane MacGowan que eu possuo. Um deles ao vivo no Town & Country de Londres, nos idos mil-novecentos-e-oitenta-e-tararás; o outro um registro de Shane MacGowan já com os The Popes, após saída conturbada da banda que ele ajudou a fundar, este ao vivo em Motreux, na Suíca. O outro, um resumo de sua vida, os altos e baixos, com e sem dentes, um antes e um depois, com alguma perspectiva e muita incerteza de quanto ao seu futuro. Este é o documentário biográfico "If I should fall in grace", metade do título de uma de suas mais célebres canções de um dos mais célebres álbuns -- "If I should fall in grace with god".

Às vezes eu me pergunto sobre quanto carisma esse velho desdentado possui, e qual seria exatamente esse carisma. Eu nunca tive a oportunidade vê-lo ao vivo, apesar de ele ter vindo ao Japão por duas vezes, com os The Pogues reunidos, em concertos durante os invernos de minha vida. Lamentavelmente, eu tive que viajar por minha pesquisa pelas duas vezes de sua vinda, sem poder assistir ao concerto. Eu lamento isso profundamente.

E não sei se é o lirismo de sua escrita sobre o que quer que seja, de biritagens com uísque e cerveja a amores imaginários, ou sua própria imagem de auto-destrutivo e feliz da vida com tudo isso, que faz com que aqueles que o conhecem estejam em extremos em relação às opiniões sobre Shane e seu legado: é amar ou detestar.

Eu gosto. Gosto muito. Gosto de como se descreve, enigmaticamente, o amor por amigos vivos e/ou já passados desta vida, os amores absurdos pelas muitas ou poucas mulheres que passam por nossas vidas, e o amor pela pátria (em seu caso, a Irlanda, a que ele se refere como o único lugar onde ele sente realmente feliz em um trecho do documentário), bem como o amor à manguaça. Eu ouço e vejo tudo isso com um misto de aflição e nostalgia, alegria e um tiquinho de tristeza, sentimentos que a boa música e a boa poesia nos desperta de vez em quando.

Assistir a esses DVDs na ordem que eu tentei expor neste post é interessante. A cronologia dos fatos, do auge com o The Pogues até a quase-decadência, seguida da volta por cima com o The Popes, e um paralelo de tudo isso dito e cuspido pelo próprio desdentado Shane MacGowan no documentário sobre sua vida tão conturbada....

Se eu fosse velho, barrigudo, feio, desdentado e tivesse uma orelha torta e pendente, se eu fosse pálido, tivesse os olhos vagos e tristes, e uma risada anormal e intrigante; se meus dedos fossem manchados por nicotina e se eu tivesse uma mente absurdamente brilhante, eu queria ser como Shane.

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